Segunda-feira, 4 de Fevereiro de 2008

M23 e o novo sistema de acesso ao ensino superior

Era só o que nos faltava….
 
Agora já é possível ingressar na universidade com poucos estudos, e digo poucos estudos quando falo de menos do 9º ano de escolaridade e ou menos do 12º como seria normal.
Não, não é por magia, apenas se tem de se fazer um dossier com um trabalho em que seja resumida a vida do estudante (e que garantias se podem ter de que seja o próprio “aluno” a preparar, na sua totalidade, o dossier?), algumas avaliações, algum acompanhamento e pronto, obtém-se primeiro equivalência ao 9º ano e pouco tempo depois um ingresso bastante simples na universidade. Fácil, não é?
Bem, fácil também não tanto assim, é preciso alguma destreza e cultura geral, mas sempre se evitam alguns anos de sacrifícios no foro familiar e profissional.
Será justo para com aqueles que lutam para ter boas notas e fazer o ensino de uma forma integral? Claro que não!!!!
Quem tem de fazer o ensino todo para chegar à universidade vai interrogar-se se vale a pena continuar nesse sistema ou se não será melhor mudar de táctica.
Pela minha experiência e opinião, enveredar pelo caminho mais fácil não é a solução. É verdade que é mais difícil, mas também é verdade que as bases adquiridas são muito mais resistentes e estáveis. E isso vai certamente reflectir-se no aproveitamento no ensino superior…
Tenho visto que a afluência ao ensino superior tem sido marcada por uma avalanche de novos formandos, principalmente no regime nocturno, pois quem está no mercado de trabalho vai tentar a sua sorte e quem estava a estudar de dia muda cegamente para a noite iludido de que será mais fácil e que ainda poderá ganhar uns cobres extras durante o dia.
Pois enganem-se aqueles que o fazem apenas a pensar que terão a vida facilitada, estas pessoas terão sim  uma vida muito mais difícil, e passo a explicar porquê, não querendo para isso desencorajar ninguém.
Já se interrogaram o porquê do estado estar a facilitar tanto o acesso ao ensino superior e a incentivar o aumento do “nível” de escolaridade? Eu já, e não gostei do que me apercebi.
- É mais fácil alguém ter o 9º ou o 12º sem ter estudado (fica com esse grau de escolaridade sem ter tido sacrifícios nenhuns)
- Será que o estado quer acabar com o ensino básico e primário? Talvez os nossos filhos fiquem com mais tempo para brincar e depois basta uns exames para ir para o ensino superior.
- Como se sentirá uma pessoa que esteve a estudar 12 anos para entrar num curso superior e ainda tem de concorrer com mais entraves do que alguém que ingressa pelo programa M23? Injustiçada, claro!!!
- Penso que esta é uma maneira de o estado ficar bem visto, pois muitas pessoas ficam agradadas por  lhes ser dada a oportunidade de frequentar o ensino superior.
- Penso que também é uma nova fonte de receita camuflada quanto às suas reais intenções, pois a quantidade de novos alunos a pagar propinas, é avassaladora.
- E o aspecto mais maquiavélico disto tudo é que o risco não é muito, pois quem conseguiu entrar no ensino superior sem bases, certamente não vai ter estaleca para acompanhar o programa e o ritmo e grau de conhecimentos que lhes é exigido, a menos que essas exigências sejam também descuradas.
- As receitas obtidas à custa dos desgraçados que irão andar a patinar até conseguirem completar o curso, são tentadoras para o governo e para as escolas, estas últimas atafulham as instalações, o mais que podem, tudo em nome de mais alunos e consequentemente de mais verbas atribuídas.
- Considero que estão a transformar as universidades em fábricas de licenciados sem precaver a viabilidade de aplicação da formação adquirida por estes. Já para não falar no engrossar de listas de desempregados licenciados…
- Acho que a aposta correcta seria na triagem de potencialidades naturais dos alunos durante o secundário e o encaminhamento mais honesto possível quanto ao sucesso futuro na opção de um determinado curso, através de ferramentas de análise vocacional.
 
Enquanto o Ministério da Educação não pensar nestas questões e continuar a ver a educação como um processo de poupança ou investimento monetário, em vez de o tratar como investimento cultural e gestão de capacidades de raciocínio presente e futuro, teremos sempre um défice de qualidade no ensino.
 
Penso que não podemos exigir mudanças e resultados imediatos, mas sim medidas claras e fundamentadas quanto à sua aplicação e finalidade. 
 
Para os que ainda não tinham pensado ainda neste ponto de vista (que pode não ser o mais correcto), aconselho a informarem-se sobre o ensino secundário nocturno que prepara as pessoas e lhes fornece as bases necessárias para o futuro, ensino esse que funciona bem, apesar de tudo, e que se recomenda.
 
É evidente que não podemos generalizar a todos os que heroicamente tentam a sua sorte, mas lembrem-se que neste processo todo, muita injustiça está presente e a qualidade do produto final está comprometida.
 
E isto é apenas uma opinião…
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publicado por Paulo Batista às 00:03
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